segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Samba no Colégio

Noel Rosa no Colégio Vicente Rijo

O projeto Menestréis de Noel realiza nesta quarta-feira, dia 3 de novembro, às 21horas, a última apresentação prevista do espetáculo “Samba no Colégio”, onde o grupo londrinense “Entretantas” homenageia o poeta e compositor Noel Rosa, no centenário de seu nascimento. A apresentação acontece no Vicente Rijo, na abertura da Semana Cultural do Colégio, e tem como público-alvo os alunos do ensino médio e técnico, além de professores e funcionários.

A escolha do nome “Samba no Colégio” é uma brincadeira que contraria o próprio Noel Rosa. Em uma de suas mais famosas letras “Feitio de Oração”, Noel diz que “batuque é um privilégio / Ninguém aprende samba no colégio”. O espetáculo tem um tempero didático. Nele, o grupo Entretantas canta músicas do repertório do poeta da Vila, entremeadas de comentários sobre sua vida e obra, com objetivo de informar e formar novos públicos para o samba. “Fala-se muito da necessidade do ensino da cultura brasileira nas escolas, por isso decidimos levar Noel Rosa até os estudantes do ensino médio, que é uma das formas mais poéticas de reconhecimento das raízes do nosso samba”, explica Juliana Barbosa, coordenadora do projeto Menestréis de Noel. O projeto é patrocinado pelo PROMIC - Programa Municipal de Incentivo à Cultura.

Apresentações do “Samba no Colégio” já foram realizadas na UEL, no teatro do Sesc Londrina e na Concha Acústica. O grupo é formado exclusivamente por mulheres da cidade de Londrina e sua identidade com Noel Rosa vem dos temas do cotidiano popular, das dores e amores vividos pelas pessoas. Fazem parte do grupo Bete Frigeri (violão, cavaquinho, voz), Márcia Nester (voz), Maria Irene (voz), Mauren Picelli (percussão e voz), Regina Reis (violão, percussão e voz) e Sílvia Borba (voz).

A estética criadora de Noel Rosa

Opção pela cultura popular

É provavelmente pela originalidade que Noel Rosa ultrapassa sua própria época, embrenhando-se na nossa por atingi-la em seus próprios dilemas. Atinge igualmente a sensibilidade humana e influencia gerações pela capacidade de atribuir, com legitimidade, novos significados ao universo humano. O compositor explora toda a riqueza da linguagem para expressar suas relações com o ambiente, utilizando uma língua viva, que foge aos dicionários e gramáticas. Uma língua brasileira, que há muito já passou do português.

Como Noel percebeu a realidade? Em que ambiente criativo? Que valores éticos, estéticos, políticos e sociais estão presentes em sua obra? De que forma ele ressignifica o universo humano? Vamos aos poucos, trazendo toda semana composições de seu repertório que nos dão essas respostas.

Noel Rosa começou sua vida como compositor aos 19 anos, quando estudava medicina. Não demorou muito tempo para que o Brasil perdesse um futuro médico e ganhasse um de seus mais representativos compositores da cultura popular. A troca do bisturi pelo pandeiro frustrava as expectativas sociais de sua época. Na autobiográfica “Filosofia” o compositor declara a rejeição da sociedade, mas afirma que prefere ser “escravo” do samba que da hipocrisia:

O mundo me condena, e ninguém tem pena
Falando sempre mal do meu nome
[...]
Vivo escravo do meu samba, muito embora vagabundo
Quanto a você da aristocracia
Que tem dinheiro, mas não compra alegria
Há de viver eternamente sendo escrava dessa gente
Que cultiva hipocrisia

Palmeira do Mangue Não Vive na Areia de Copacabana
No samba “O ‘X’ do Problema”, o compositor trata da dificuldade que uma pessoa nascida e criada no Estácio de Sá teria, na iminência do estrelato artístico, para mudar-se do bairro suburbano. Mesmo diante de uma proposta bastante atrativa (ser estrela de cinema) o ele não concebe a ideia de sair daquele bairro, berço da primeira escola de samba. Na composição, o subúrbio e a região nobre são representados, respectivamente, por dois ecossistemas: o mangue e a areia de Copacabana. O compositor recorre à metáfora para retratar a preferência pela vida na periferia.

Já fui convidada para ser estrela do nosso cinema
Ser estrela é bem fácil
Sair do Estácio é que é o X do problema
[...]
Nasci no Estácio
Não posso mudar minha massa de sangue
Você pode ver que palmeira do mangue
Não vive na areia de Copacabana

A identidade de sangue com o Estácio incorpora todo um universo, que representa o bairro como cotidianidade popular, convívio humano e convívio na roda de samba, que afirma sua sedução comparativamente ao mundo opulento da fama. O mangue, lamacento e vívido. A areia, brilhante e estéril.